quarta-feira, 3 de março de 2010

Ainda propósito da fotografia conjunta RAF/Benfica


Esta equipa da RAF era um grupo fantástico constituído não só pelos atletas que aparecem na fotografia, mas por alguns outros mais. Durante os nossos anos “dourados”, alguns chegavam outros ausentavam-se, por motivos vários, mas a estrutura mantinha-se. O núcleo duro estava lá. Recordo que éramos uma equipa muito solidária dentro de campo, por vezes, excessivamente agressiva que defendia muito bem. Também tivemos guarda-redes valiosos, como foi o caso do Nelinho…”Então e agora, não batem palmas?”.
Mas a imagem de marca desta equipa da RAF, seria, na minha opinião, a paixão de vencer, a competitividade que púnhamos em campo, o amor com que defendíamos aquela camisola, a “nossa” camisola, a forma como “vendíamos cara” a derrota quando ela acontecia, a capacidade de sacrifício, a alegria de vencer.
Nesta breve crónica não vou falar da equipa que jogava, vou deixar os comentários para os meus amigos, ex-colegas de equipa. Vou antes, tecer algumas considerações sobre três agentes fundamentais no sucesso de uma equipa.
Em primeiro lugar o nosso líder, o nosso treinador. Tivemos alguns. O Ricardo (Gordinho) foi um deles, tenho muito boas recordações desse tempo. Mas, também foi o “nosso” pivot, neste jogo contra o Benfica. Então, vou falar do Professor Guta, que era o nosso treinador, jovem treinador, muito bem documentado, com formação técnico-científica, bom amigo, companheiro e muito paciente connosco. Chegou a jogar a pivot, mas a sua vocação, a sua especialidade era treinar, era tentar que melhorássemos em termos individuais técnica e tacticamente para que a equipa fosse melhor colectivamente. E consegui-o, por várias vezes. Se fizemos tão boa figura contra o Paço D`Arcos, contra o Alfeite, contra o Benfica, muito do mérito tem de ser atribuído ao Guta.
Acho que a importância que o Guta atribuía à defesa, à solidez defensiva, era talvez o nosso melhor trunfo. Depois, tínhamos duas ou três jogadas combinadas que resultavam bem e o resto, o resto era improviso… e que improviso.
Caro Guta, daqui vai uma breve homenagem ao teu trabalho e uma mensagem com trinta anos de atraso, “Foste um treinador respeitado, ganhaste a nossa admiração e respeito, sobretudo, pela tua honestidade na forma como treinavas, como eras sério e franco na relação connosco, ambicioso por querer ganhar e por seres inteligente ao ponto de perceberes como era o grupo com o qual lidavas. Não impuseste o respeito, aliás tal não seria possível…ganhaste o nosso respeito, embora, por vezes, pudesse não parecer, face ao “nosso” espírito de rebeldia e falta de “atitude” no treino, que era compensada em atitude no jogo.
A minha segunda referência vai para o nosso “staff dirigente”, muito bem personificado na pessoa do Toíca, um dirigente dedicado, atento e muito responsável. Aliás, o futuro demonstrou a sua vocação para o dirigismo desportivo.
A terceira referência” the last but not the least”, vai para a excelente “massa associativa”, pequena em número mas grandiosa em apoio, incansável, ruidosa e, por vezes, indomável, o nosso 12º jogador que era a imagem da valentia, da intrepidez, próprio de quem vivia no jogo com o mesmo entusiasmo, a mesma gana de ganhar de quem estava em campo…daí o insólito de, num jogo, ainda por cima, em campo alheio, lá para as bandas de Lisboa, acontecer uma invasão de campo feita …por uma única pessoa, Grande Marinho…ai de quem se lhe atravessasse ao caminho, que ninguém se fiasse na sua aparência delicada e de bem vestir…

Esta crónica já vai longa….termino com um poema de Machado de Assis:

Por que sinto falta de você? Por quê esta saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz, teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...

(joca)

1 comentário:

Emanuel disse...

É isso Joca e já que falaste no meu nome não quero deixar de me referir ao Professor Guta.Como sabes no andebol tinha sido sempre lateral mas eis que em dada altura precisávamos de um guarda-redes, aí o Professor insistiu comigo para que o fosse.Aceitei o desafio, foi terrivel porque não tinha tido escola e esta posição é das tais mesmo específica mas tudo se superou graças ao seu conhecimento e dedicação, lembro-me que os dois passávamos horas no "nosso" Lethes(outra história para contar) resultando daqui ter andado cerca de meses com os braços não rôxos mas PRETOS...comecei, então, a ganhar sentido de baliza, colocação, confiança e de tal modo esta foi crescendo que num jogo com o Racal de Silves em Faro ao intervalo a nossa equipa tinha ZERO golos sofridos, é claro que também dei as minhas barracas mas no geral penso que desempenhei muito bem o meu papel graças e em muito ao Professor Guta, bem haja portanto e daqui lhe mando um forte abraço e dizer-lhe que ele pertencerá, sempre, na nossa mente.Nelinho.